Por Magaléa Mazziotti
Planejamento logístico impacta no valor de todos os produtos pagos pelos consumidores. No Brasil, com seus gargalos conhecidos, como a alta dependência do transporte rodoviário para o escoamento de cargas (acima de 80%), o preço final das mercadorias sofre, em média, um acréscimo de 30%. Sendo assim, qualquer medida, com o objetivo de melhorar isso, afeta diretamente o bolso de cada um, inclusive a “parada” de manutenção e melhoria de eficiência do Corex (Corredor de Exportação do Porto de Paranaguá), que inicia nesta semana.
O trabalho envolve a Portos do Paraná em parceria com a Aocep (Associação dos Operadores Portuários do Corex) e a Atexp (Associação dos Terminais do Corredor de Exportação de Paranaguá) visando atender a demanda da safra brasileira que começa a ser colhida em janeiro de 2021. A diretoria de Engenharia e Manutenção da Portos do Paraná ressalta que a manutenção, ao longo deste mês, se dará com paradas alternadas de modo a não paralisar o Corex totalmente. Na faixa, a manutenção dos equipamentos será iniciada pelo berço 212, por um período de 10 dias, após, o berço 214, por 25 dias, e o berço 213, por 34 dias. Segundo a diretoria, “as paradas programadas para manutenção dos equipamentos são fundamentais, pois asseguram as metas de volume de produtos embarcados, performance eletromecânica de equipamentos, custos operacionais e produtividade”.
Bastidores da manutenção
Confira o que está programado para esta “parada” de manutenção do Corex, quais contratos e quem são as empresas contratadas.
1) Pelo contrato de nº 130/2020, a empresa Fôrma e Fórma Indústria Metalúrgica LTDA irá executar as seguintes ações:
– Serão realizados serviços de lubrificação de mancais, motores, redutores, articulações e cabos de aço;
– Manutenção mecânica envolvendo substituição de cavaletes, roletes, borracha para raspadores e aparas, correias transportadoras, tratamento anticorrosivo em guarda-corpo, substituição de cabos de aço, revisão mecânica em mancais, revestimento em tambor;
– Alinhamento a laser de conjunto motorizado;
– Substituição de moto redutor eletroímã e mancal nos equipamentos do setor leste do Corex, que é composto por seis linhas de carregamento e seis shiploaders em três berços de atracação: o 212, o 213 e o 214;
– Também será realizada a manutenção preventiva das rodas do tripper e manutenção preventiva nos freios hidráulicos e freios eletromagnéticos;
– Serão substituídos 19 dutos de descarga do Corex e a manutenção de outros 16 dutos dos transportadores de correia, denominados de “TC1” e “TC2” (linhas 1 e 2), afim de otimizar o escoamento dos produtos transportados pela linha de expedição, garantindo maior eficiência do sistema.
2) Pelo contrato nº131/2020, a empresa Gaesan Engenharia e Consultoria Técnica realizará a manutenção preventiva e corretiva de subestações de energia. Também terá que instalar tapetes isolantes nas subestações do Corex, no setor leste, composto por seis linhas de carregamento e seis shiploaders em três berços de atracação: 212, 213 e 214.
3) A Atexp responde pela reforma do shiploader 4, que inicia nesta segunda-feira (dia 7) e segue até domingo (dia 13). Será uma reforma geral do conjunto de translação e recuperação estrutural com adequação à NR12.
Sem afetar o escoamento da safra
Em nota, a Atexp explicou que o foco principal será a recuperação do shiploader 4 e dutos de descarga das linhas 1 e 2, referentes ao berço 213, o chamado “superberço”. Já a Aocep, também por nota, assegurou que o objetivo é que a manutenção seja feita dentro de um prazo que não afete a operação e que deixe tudo preparado para o escoamento da próxima safra. “Assim como o produtor rural brasileiro, da porteira para dentro, se supera a cada nova safra com ganhos de produtividade e eficiência, o Porto de Paranaguá também se dedicou a acabar com um passado recente de filas e encarecimento dos custos, por conta de atrasos nos embarques e desembarques das mercadorias. Esses ganhos de eficiência tentam amenizar o custo Brasil que ainda é muito elevado em função das perdas na ligação entre os locais de produção e o escoamento”, aponta o doutorando em estratégia, mestre em internacionalização e coordenador do curso de Comércio Exterior da Universidade Positivo, João Alfredo Lopes Nyegray.
Para ele, o planejamento logístico impacta sobremaneira no valor final dos produtos pagos pelo consumidor. “Embora a definição do valor das mercadorias seja determinada entre exportadores e importadores, nessa busca por se reinventar todo o dia, o Porto de Paranaguá contribui para os negócios ao fazer bem a sua parte. Já existem planos, em Paranaguá, para se construir berços que vão permitir a ancoragem de mais navios ao mesmo tempo. Assim como as sucessivas dragagens visando o aumento do calado, para permitir que navios maiores parem ali, também ajudam nos negócios e todos se beneficiam”, afirma.
Mais da metade da safra brasileira de 2021 já está vendida
A produção brasileira de grãos, na safra que começará a ser colhida em janeiro, deve atingir 268,94 milhões de toneladas, o que representa 11,9 milhões de toneladas, ou 4,6% a mais, do que a temporada anterior. Com isso, o Brasil caminha para bater novo recorde na produção, segundo levantamento da Conab. As vendas da próxima safra de soja do Brasil ultrapassaram, em outubro, 50% da produção, com 65,65 milhões de toneladas comercializadas, considerando a intenção de plantio para a nova temporada. Segundo a consultoria Datagro, as vendas da safra que será colhida em 2022 também começaram a ser registradas no país, e já avançam para 20% de comercialização.
Do total produzido neste ano, pelo Corex, segundo a assessoria de imprensa da Portos do Paraná, de janeiro a novembro, foram exportadas 19,46 milhões de toneladas de grãos de soja (em grão e farelo), milho e trigo.
Eficiência é antídoto do agro frente aos problemas internos e à pandemia
O foco na eficiência da operação portuária e no campo só confirma o maior clichê sobre a força do agronegócio brasileiro de que é o “Brasil que dá certo”. Isso, na avaliação do mercado, blinda o país e, principalmente, as relações comerciais com os países compradores, como a China. “Brasil, EUA e Argentina produzem, juntos, 80% da soja consumida no mundo. Então, não é uma fala despreparada do filho do presidente que fecha o mercado por conta da liderança que nosso país ocupa no que envolve a missão de alimentar o mundo. Isso não se restringe à soja, já que também somos uma potência na produção de proteína animal”, explica Niegray.
Ele também considera que essa condição, somada à tecnologia embarcada na produção agrícola, blindou o país e a principal força motriz da balança comercial brasileira de serem afetados pela pandemia. “Essas máquinas agrícolas fantásticas, que fazem plantio e colheita praticamente sozinhas, com muita tecnologia, conseguiram manter e seguirão com a operação em segurança, sem aglomerações e garantindo alimentos e receita para o nosso país”.
Também não há o que se preocupar com a notícia da primeira operação de importação de soja no Porto de Paranaguá com o navio Discoverer, trazendo 30,5 mil toneladas do produto, o maior volume comprado pelo Brasil dos EUA, para abastecer o mercado interno brasileiro. “O Brasil é um gigante na produção de soja, mas o preço do produto no mercado internacional, aliado às vantagens cambiais, fez com que praticamente toda a produção deste ano fosse vendida ao exterior. Com isso, foi necessário importar o grão para atender a demanda interna”, explicou o diretor-presidente da Portos do Paraná, Luiz Fernando Garcia. Segundo especialistas de comercialização agrícola, em abril, será a vez dos EUA importarem soja, já que também esvaziaram seus estoques.