Amanda Yargas
Entre as ocupações declaradas pelos candidatos ao Tribunal Superior Eleitoral, dona de casa aparece em 6ª lugar nestas eleições, com 22.329 mil candidatos em todo o país, o que corresponde a 4,01% do total. As funções que aparecem com mais frequência são: agricultor (38 mil), servidor público municipal (35,4 mil), empresário (33,4 mil), comerciante (30,7 mil) e vereador (24,8 mil).
No Paraná, são 1.693 candidatas que declararam a ocupação de dona de casa no registro de candidatura. Quatro delas concorrem ao cargo de prefeita e nove ao de vice. Entre as candidatas a vereadora, 43 disputam as eleições em cidades litorâneas: 10 em Pontal do Paraná, 7 em cada uma das cidades de Paranaguá, Antonina e Guaratuba, 6 em Morretes, 4 em Guaraqueçaba e 2 em Matinhos.
Para a advogada Juliana Bertholdi, especialista em Direito Eleitoral e pesquisadora na área de Direitos Humanos, Justiça e Democracia, esse quadro é reflexo do aumento da inserção feminina nos espaços políticos, ocasionada pela fiscalização mais acirrada da lei que determina que 30% das candidaturas de um partido devem cumprir a cota de gênero. A lei vale desde o pleito de 1998, mas apenas em 2018 ganhou força, com a obrigatoriedade da destinação de pelo menos 30% do Fundo Eleitoral e do Fundo Partidário para as campanhas femininas. Apesar de o número de candidaturas de mulheres ter aumentado nos últimos anos, a representatividade entre os eleitos continua baixa. A advogada ressalta que é necessário três vezes mais recursos para eleger uma mulher. “Não obstante a gente tenha feito esse recorte de obrigar a participação das mulheres na construção das chapas, não obstante 30% dos recursos públicos, e aqui eu incluo tanto dinheiro que nós investimos, tanto o período do horário eleitoral gratuito, não obstante esses investimentos, eleger mulheres ainda é mais difícil e mais caro”.
Eleitorado ignorado
Ela acredita que as candidaturas das donas de casa são uma resposta normal a maior ocupação do espaço político pelas mulheres e que essas candidatas vêm para dar voz à parte do eleitorado que sempre foi deixado de lado. “Essa percepção da mulher enquanto dona de casa, como essa parcela da população que exerce um trabalho extremamente difícil e não remunerado, talvez não tenha sido percebida pelos candidatos tradicionais. As donas de casa são uma parte significativa da população, têm acesso à televisão e ao rádio, em geral são politicamente muito bem informadas e, provavelmente, não viam imagens de identificação própria em outras candidaturas”.
A advogada considera, ainda, que a percepção sobre as mulheres está crescendo no meio político: “está deixando de existir a simples figura da mulher na política para a gente reconhecer a pluralidade delas na sociedade que precisa de representação política. A mulher não é tão somente mulher, ela pode ser mulher empresária, ela pode ser mulher e integrar a população LGBT, ela pode ser uma mulher conservadora, ela pode ser uma mulher progressista. Mulheres são plurais, assim como os homens são plurais, e ver essa pluralidade na política tem sido muito bacana e muito importante para a qualidade da nossa democracia”.
Homens
No Paraná, há ainda outros 5 homens que concorrem ao cargo de vereador e que declararam a ocupação “dona de casa” em seus registros. Para a advogada, esse cenário mostra uma modificação de paradigmas. “É preciso lembrar que a estrutura patriarcal não afeta só a atividade da mulher. Então, seguramente esses homens donos de casa sofrem também essa parcela de preconceito, sofrem também com a ausência de representatividade, inclusive, para além da representatividade política. Porque nós temos sim homens que são pais, homens que são donos de casa, e ter essa discussão, da divisão sexual do trabalho, do trabalho doméstico, como uma discussão de gênero ampla, é muito interessante”, conclui.