Por Gabriela Vizine
Devido ao alto risco de contágio de infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), medidas de higiene e isolamento social foram adotadas nos últimos meses em todo país. Com isso, a população permaneceu mais tempo em casa e o acúmulo de lixo residencial subiu. Segundo dados da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), houve um aumento de 25% na quantidade de lixo doméstico no Brasil. Já para os resíduos hospitalares, a soma é de 10 a 20 vezes. O litoral paranaense também acompanhou esse crescimento. De acordo com a Secretaria de Meio Ambiente de Matinhos, os números subiram igualmente na região. “Nossos levantamentos mensais também mostraram essa quantia. O cidadão está em casa e está consumindo mais”, destaca o secretário da pasta, Sergio Cioli. As compras pela internet, incluindo delivery, contribuíram para o salto de resíduos. Os dados da empresa de sistema de pagamentos ACI Worldwide, por exemplo, mostram que as transações virtuais saltaram 209% no mundo todo se comparadas no mesmo período de 2019.
Além do acúmulo de lixo por compras digitais (o que também significa mais lixo reciclável no caso de plásticos e embalagens de produtos), os inservíveis e vegetais alavancaram no balanço de Matinhos. Segundo o secretário, esse foi o maior problema na região. “Notamos que o pessoal dos outros municípios (e até mesmo daqui) aproveitaram o tempo em casa (ou o período home office na praia) fazendo pequenas reformas como pintura, poda de árvores, construções, reconstruindo e substituindo móveis. No quesito de inservíveis e vegetais, podemos dizer que o índice ultrapassou de 30% a mais,” relata. Cioli comenta que os resíduos de construção civil, móveis e eletrodomésticos continuam sendo descartados de forma errada pela população.

DESCARTE DE VEGETAIS E INSERVÍVEIS
Apesar de a prefeitura contar com um plano de resíduos e o descarte do lixo doméstico estar sendo realizado corretamente, segundo a secretaria, os vegetais e inservíveis estão sendo descartados da maneira errada pelos moradores. “O que a pessoa precisa entender é que a taxa de lixo paga de R$ 17,70 corresponde ao lixo doméstico, o que a prefeitura já faz a prestação de serviço. Nós acabamos fazendo esse serviço, pois não queremos uma cidade suja e que esse lixo seja descartado da maneira incorreta, a consciência que o morador não tem,” diz.
Sergio Cioli cita que esse tipo de insumo, deixado em frente das casas, é passivo de multa. “O cidadão despeja ali e acha que é dele, mas na verdade aquele espaço é de uso comum”, denota. “Há uma lei que diz que o morador precisa contratar uma caçamba pra esse tipo de material. Se, no caso, o lixo for vegetal, o cidadão pode entrar em contato com a Secretaria de Meio Ambiente e autorizamos fazer a poda para ele levar no aterro vegetal”, ensina.
PROBLEMAS DO DESCARTE INCORRETO
A bióloga Amanda Porrua explica que um dos problemas resultantes do descarte inadequado é a poluição dos oceanos. Ela pontua que, com esse crescimento, muitos organismos estão se extinguindo, o que causa muita preocupação aos ambientalistas. A bióloga observa também que esse ecossistema é responsável pela renda de muitas famílias brasileiras. “Muitos organismos confundem esses resíduos com alimentos que compõem a sua dieta e acabam por ingerir os insumos ou partículas deles, ocasionando, na maioria das vezes, a obstrução do trato gastrointestinal, feridas internas e acarretando na morte desses animais”, comenta.